quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Reportagem com Chino Moreno na UOL...

Em meio à explosão do chamado new metal, se houve uma banda que destacou-se mais pelos méritos artísticos do que pelo visual ou por polêmicas extra-musicais, esta banda foi o Deftones. O grupo se apresenta em São Paulo no dia 7 de novembro, no festival Maquinaria.

Além da junção de metal e hip hop comuns a seus colegas de estilo, o grupo californiano inovou ao absorver elementos do indie rock britânico e de grupos da cena pós-hardcore norte-americana da época, como Fugazi e Quicksand --essa última, antiga banda do baixista Sergio Vega, atualmente ocupando o posto de Chi Cheng, que se recupera do grave acidente de carro que sofreu há um ano.

Já com Sergio, o Deftones compôs e gravou o disco "Eros", com lançamento previsto para o início de 2010. Em entrevista ao UOL Música, o vocalista Chino Moreno falou sobre o novo álbum, os shows no Brasil e a alegria de tocar com Jane's Addiction e Faith No More.

UOL Música - É a terceira vez que o Deftones vem ao Brasil. O que você se lembra das outras vezes?

Chino Moreno - Obviamente eu me lembro do Rock in Rio 3 [em 2001], que foi um dos maiores shows que nós já fizemos. Foi lindo, nos divertimos muito. Na segunda vez que viemos, ficamos pouco tempo, então não deu para aproveitar São Paulo, mas me lembro que o show foi bem legal. Não vejo a hora de voltar. Esse festival tem uma escalação excelente, com várias bandas boas.


UOL Música - Vocês vão tocar com o Faith No More e o Jane's Addiction, duas bandas que também são da Califórnia e misturam rock pesado com outros estilos. O que você acha desses grupos?
Chino -
São duas das bandas mais influentes do nosso tempo. O Jane's Addiction era muito bom com a dinâmica na música deles, conseguiam misturar coisas muito bonitas e trabalhadas com outras bem rápidas e agressivas. Na mesma música eles te levam de um lado ao outro num só golpe rápido e por isso sempre nos influenciaram. A mesma coisa vale para o Faith No More. Foi uma das primeiras bandas que incorporaram vocais rítmicos com ótimas melodias, que é algo que eu tento fazer também.

UOL Música - A música do Deftones complementa a música feita pelo Faith No More e o Jane's Addiction ao derrubar as barreiras entre os gêneros?
Chino -
Acho que esse é um ponto interessante. Sempre mantivemos a cabeça aberta em relação à música. Não faz sentido escolher um estilo apenas e construir muros em volta de si e não se permitir explorar todos os sons diferentes que existem por aí. Existe música legal em todos os gêneros. Eu ouço muita coisa diferente todos os dias, então obviamente é muito bom para mim não colocar barreiras. Geralmente, minhas bandas favoritas são as que fizeram isso. Espero que as bandas novas de metal peguem isso de nós também.

UOL Música - Falando em novo metal, vocês ainda são chamados de new metal?
Chino -
Não muito. Isso é meio bobo, sabe? Acho que sempre fomos uma banda que nunca quis ser rotulada como parte de um gênero, especialmente, junto com algumas das bandas que associavam ao new metal. Se fosse para fazer parte de um gênero, que pelo menos fosse com bandas melhores (risos). Sempre falamos mal dessa história de new metal e esperamos que isso acabasse algum dia. Agora acho que acabou.

UOL Música - O Deftones surgiu na virada dos anos 80 para os 90. Na época, o metal ainda era mais ortodoxo. Como era fazer o que vocês fazem naqueles tempos?
Chino -
As pessoas gostavam. Eu nem pensava muito, não planejamos soar de algum jeito específico. Éramos amigos desde crianças, mas crescemos ouvindo coisas diferentes um do outro. Eu ouvia muita new wave, música eletrônica e hip hop dos anos 80, e nunca escutei muito metal. Mas por ser amigo do Stephen [Carpenter, guitarrista da banda], conhecia essas coisas por meio dele. Quando começamos a banda cada um fez o que sabia. Hoje em dia, continuamos fazendo isso e acho que sempre é bom tocar com gente que não vem do mesmo estilo, porque um estimula o outro com idéias que não apareceriam normalmente.

UOL Música - Os anos 80 foram muito reverenciados nesta década que acaba agora. Você acha que agora é a vez do revival dos anos 90?
Chino
- Totalmente. E principalmente do começo dos anos 90. Havia muita música boa naquela época e acho que muito foi esquecido porque as bandas que eram grandes. Pearl Jam e R.E.M. são as únicas das quais as pessoas se lembram, mas havia muita coisa legal alternativa. O Quicksand, por exemplo, foi uma banda muito influente do início dos anos 90 e agora o Sergio Vega está tocando conosco. Então acho que estamos fazendo a nossa parte para que esse revival aconteça (risos).

UOL Música - Vocês tiveram que regravar o disco novo. Como foi esse processo?
Chino
- Foi difícil. Fizemos várias músicas, e então o Chi teve o acidente e ficamos sem saber o que fazer. Decidimos que, se a banda fosse continuar, deveríamos aproveitar essa experiência e colocá-la no trabalho e não fazer um novo disco só por fazer. Queríamos ter um propósito e deixá-lo realmente muito bom. Então quando começamos, decidimos chamar o Sergio para nos ajudar a compor e ver o que acontecia. O disco foi inteiro escrito pela banda toda.

UOL Música - Qual é a diferença entre a versão final e o que vocês fizeram antes do acidente do Chi?
Chino
- Não é melhor nem pior, é diferente. Cada gravação nossa é como se fosse um retrato da época. Quando começamos a gravar, apesar de estarmos nos divertindo, não estávamos sendo tão criativos. Havia boas ideias, mas não era um trabalho sólido como um todo. Então decidimos fazer mais músicas e, quando vimos, estávamos com um disco novo inteiro, representando uma outra época pela qual a banda estava passando. Foi como apertar o botão de "reset", entende? Funcionou muito bem e conseguimos criar um disco bonito, agressivo, bem pensado e com um som muito bom.

UOL Música - E como o novo disco soa em comparação aos outros álbuns?
Chino
- É difícil comparar, mas eu diria que é um intermediário entre o "Around The Fur" e o "White Pony", porque ele tem muito groove, mas também tem muitas partes bonitas. Não planejamos que ele fosse assim, mas são dois álbuns muito inspirados. O sangue novo trazido pelo Sergio nos deu entusiasmo para fazer algo muito bom. O disco novo sai no começo de 2010.

UOL Música - Vocês soam muito diferente com o Sergio no lugar do Chi Cheng?
Chino
- Não acho que fique tão diferente. O Sergio se encaixa perfeitamente no groove e toca como nós. Ele foi nossa única escolha para substituir o Chi. Talvez nós nem fôssemos mais continuar com a banda, não estávamos a fim de sair procurando baixistas. Na época, o Sergio estava dedicado a seu trabalho como DJ em Nova York e só se decidiu depois de vir até a Califórnia e tocar com a gente. Nos encontramos na sala de ensaio e no primeiro dia já fizemos duas músicas novas. Depois ele se mudou para Los Angeles e quatro meses depois estávamos com o disco inteiro pronto.

UOL Música - Como o Chi está agora?
Chino
- Está bem melhor, ele ainda está num estado semi-consciente, mas já está abrindo os olhos e progredindo muito. Temos muita esperança de que ele possa voltar. Estamos otimistas e em novembro faremos um show beneficente a ele em Los Angeles para juntar dinheiro, pois ele ainda precisa de cuidado em tempo integral. Também temos o site oneloveforchi.com, onde as pessoas podem ver as informações atualizadas sobre o Chi. Estamos felizes por ele estar vivo e esperamos pela volta dele, mas será um processo longo.

UOL Música - O que você espera do show em São Paulo desta vez?
Chino
- Estamos em turnê nos Estados Unidos há duas semanas. Os shows estão muito bons musicalmente e em termos de energia. Quando chegarmos no Brasil estaremos afiados e acho que será um ótimo show. É um festival excelente, queria que fizessem um igual aqui nos Estados Unidos.

UOL Música - Vocês vão tocar músicas novas no Brasil?
Chino
- Sim, vamos mostrar uma música que temos tocado na turnê norte-americana, que estamos fazendo com o Slipknot. É a música que abre o show.

UOL Música - Um recado para terminar?
Chino
- Quero ver todo mundo no show novamente e espero poder conhecer o pessoal desta vez. Estou toda hora no Twitter e no MySpace e sempre tem muitos fãs do Brasil que nos acompanham há muitos anos. Gostaria de agradecê-los pelo apoio.

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